Para Coe, atletismo resiste após crise de credibilidade: "Ainda somos fortes"
Antes do início do Mundial de Portland, primeira grande competição internacional sem participação da Rússia, presidente da IAAF reitera seriedade e pede apoio dos atletas.
A exposição do envolvimento da antiga cúpula da Federação Internacional de Atletismo (IAAF) no maior escândalo de corrupção e doping da história da entidade não abalou a popularidade do esporte no mundo. Pelo menos esta é a opinião do atual presidente, Sebastian Coe. Em evento de abertura do Mundial Indoor de Portland, o britânico citou os bons índices de venda de ingressos da competição em solo americano e de outras ao redor do mundo para respaldar sua crença de que o público segue interessado em ver a performance dos atletas.
- Nós ainda somos fortes. E isso não é negar que passamos por dias desafiadores, escuros. Seria surpreendente se eu concluísse qualquer coisa diferente disso. As vendas de ingressos aqui estão ótimas, os públicos de eventos da temporada indoor seguiram expressivos, então as pessoas seguem apoiando o esporte. Estamos em um processo de mudanças e temos que fazê-las. Tenho que tomá-las como minha responsabilidade. Mas ainda temos a confiança mundial e vamos assegurar que as pessoas realmente confiam no esporte e que os atletas limpos confiam na instituição para assegurar que criamos oportunidades justas e protetivas. (...) Não vamos retomar a confiança do dia para a noite. Não é uma equação exata. Não se coloca dez dólares em uma máquina de caça níquel e, de repente, a confiança volta. Isso vai demorar um tempo. Os atletas limpos têm uma grande responsabilidade nisso também. Não é uma questão única aqui. Todo mundo tem que fazer sua jornada junto. – disse Coe.
A IAAF sofre com uma crise de credibilidade desde dezembro de 2014, quando a rede de televisão alemã ARD publicou um documentário revelando quão vasto era o esquema da Rússia para burlar o controle antidoping, contando com cifras milionárias pagas em suborno a oficiais do alto escalão da agência local (Rusada) e da IAAF, incluindo o ex-presidente Lamine Diack e alguns de seus principais conselheiros e diretores.
Em novembro de 2015, um relatório feito por uma comissão independente da Agência Mundial Antidoping (Wada) confirmou que a corrupção para driblar o controle de substâncias proibidas era institucionalizado na Rússia. Vice-presidente da IAAF na gestão de Diack, Coe conseguiu passar ileso pela crise na entidade e adotou uma postura rígida de punição aos russos. Suspendeu a federação do país e proibiu a participação de seus atletas em quaisquer competições internacionais.
A sanção foi reavaliada e, na última semana, em meeting da cúpula da IAAF confirmou a manutenção da pena até segunda ordem. Com a decisão, nenhum atleta russo pôde participar do Mundial Indoor. Na última edição, em Sopot, na Polônia, os russos ficaram com a vice-liderança do quadro de medalhas, com três ouros e duas pratas.
- Não é um instinto natural para ninguém, especialmente para um ex-competidor, ver atletas ficando fora de um Mundial. Mas foi uma decisão do conselho que precisaríamos direcionar isso. As observações do relatório da comissão independente não foram observações que podíamos ignorar. O desafio agora é garantir que, quando e assim que os atletas (russos) voltarem para as competições, não tenha discriminação contra os atletas limpos. Nossa responsabilidade é fazer isso – completou Coe.
Os atletas presentes na coletiva de imprensa desta quinta-feira não comentaram a ausência dos russos. Campeão olímpico e recordista mundial do decatlo, o americano Ashton Eaton tomou a palavra em nome dos demais e não quis aprofundar-se no tópico.
- Acho que posso falar em nome dos demais. Eu sinceramente não me importo. Só me importo com o que tenho que fazer na pista.
O presidente da IAAF se mostrou tranquilo com o andamento das reformas no estádio olímpico dos Jogos do Rio. Sebastian Coe disse ter contato direto e próximo com a Comitê Organizador Local e que estará no evento-teste de atletismo, em maio. Segundo ele, relatórios são enviados constantemente, e os representantes da entidade estão satisfeitos com o que têm visto no Brasil.
- Temos nosso time de competição acompanhando e trabalhando bem de perto com o Comitê Organizador Local. Tenho uma relação bem próxima com o Comitê Organizador. O bem-estar dos atleta vai sempre ser a prioridade. É algo que sempre vamos acompanhar. Os nosso técnicos estão sempre por lá e acho que estão bem satisfeitos de que esse será um estádio perfeito para grandes competições.