Após cogitar deixar pódio, Lavilenie revela incentivo à rivalidade com Braz

17/08/2016 18:16

Francês diz que lenda Sergei Bubka mostrou como a competição entre os dois pode elevar o nível do salto com vara masculino: "Objetivo deve ser puxar um ao outro".

 
Ouvir vaias durante a competição incomodou. Ouvir vaias no pódio doeu demais. Mas o consolo que Renaud Lavillenie recebeu após ser alvo da torcida presente na cerimônia de entrega de medalhas no Engenhão o fez enxergar um novo horizonte no esporte. Chamado pelo recordista mundial Sergei Bubka para conversar nos bastidores, o francês aceitou que Thiago Braz fosse incluído no papo. E, ali, em uma sala do estádio olímpico do Rio de Janeiro, entendeu que a rivalidade sadia com o brasileiro poderia levar os dois a um novo nível de rendimento.Campeão olímpico em 2012, Renaud Lavillenie foi derrotado por Thiago no último salto. O brasileiro conseguiu a façanha de ultrapassar o sarrafo a 6,03m, superando a marca dos seis metros pela primeira vez na carreira. Surpreendeu a todos e conquistou um inédito ouro para o Brasil na prova. De quebra, ainda quebrou o recorde olímpico. Lavillenie, que havia passado por 5,98m na primeira tentativa, tentou a barreira dos 6,08m. Não obteve sucesso e ficou com a prata. Pensei em sair do pódio. (...) Logo depois, (Thomas) Bach (presidente do COI) e (Sebastian) Coe (presidente da IAAF) falaram comigo para tentar me consolar. E depois Bubka, que é muito próximo. Ele me perguntou se eu gostaria que Thiago viesse e que poderíamos ter uma troca. Foi um momento importante para compreender que o que fizemos na competição foi incrível e tinha sido importante para o esporte. E que o que há entre eu e Thiago não foi jamais falta de respeito e que nosso objetivo deve ser continuar competindo juntos para seguir puxando um ao outro e fazer sempre o melhor possível.


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Lavillenie chegou como franco favorito ao ouro olímpico. Só entrou na disputa com o sarrafo a 5,75m, quando seis dos 12 finalistas estavam eliminados. Passou por todas as alturas estabelecidas pela organização na primeira tentativa até chegar a 5,98m, quando quebrou o recorde olímpico. Ali já estava com a prata garantida, com uma mão no ouro. A essa altura, a torcida já havia se dado conta de que Lavillenie era um obstáculo entre Thiago e o título de campeão. Começou a vaiá-lo. Ele fez sinal de negativo, o que só tornou as manifestações das arquibancadas mais acaloradas. Na base do tudo ou nada, Thiago decidiu arriscar passar a 6,03m pela primeira vez na carreira. O francês errou duas vezes. O brasileiro surpreendeu e acertou na segunda. Com um erro do rival a 6,08m, Thiago levou o ouro.

- De fato a competição estava boa no começo. O público estava incrível, bom para todo mundo. Era uma prova boa para um nível olímpico, mesmo com a chuva que complicou e atrasou. Em seguida, quando Thiago fez 5,93m tudo mudou. Primeiro o americano foi (vaiado), o polonês. Depois ficamos eu contra Thiago. De fato o público a partir desse momento estava por Thiago, que seria normal. Mas contra mim o barulho foi enorme, e precisamos de uma concentração extraordinária. Thiago não precisava disso porque estava suficientemente forte para vencer.

Após ser derrotado, com a cabeça quente, Lavillenie foi extremamente infeliz ao comparar o tratamento recebido no Estádio Olímpico nesta segunda-feira ao dado ao multicampeão Jesse Owens nos Jogos de 1936, na Alemanha nazista. A repercussão da declaração foi imediata, e o francês logo se deu conta de que havia errado na dose. Se retratou e deixou claro que não teve intenção de ofender os brasileiros.

- Quando fiz a comparação, não pensei na Alemanha Nazista. Vi um filme sobre Jesse Owens. Naquele momento, pensei no fato de os alemães terem sido hostis com ele no estádio. Foi o sentimento que senti. Os alemãs foram racistas, e aqui não foi isso. Não tenho nada contra o público brasileiro.